#2

Sempre pensei.
Sempre pensei aquele pensamento básico e primitivo, aquele pensamento obrigatório para o dia a dia. Noutros momentos, de mais introspecção, o meu pensamento elevava-se e era aí que ganhava força e reinventava histórias, ou até quem sabe, inventava-as mesmo.
Portanto o meu pensamento teve, até recentemente, duas fases, duas intensidades. duas vertentes.
À uns dias atrás, desvendei outra forma de pensar. Esta abstrai-me completamente de tudo o que me rodeia, faz-me como que adormecer e leva-me para um espaço onde só eu existo. Existo eu e no entanto não me vejo, ali só permanece o meu pensamento e certo é que ainda lhe descobri a forma.
Descobri também que este novo pensamento é perigoso, é-me fisicamente perigoso. Mas ainda assim eu entendo-o. Ele é único, é verdadeiro, é grande e não depende de nada, nem mesmo de mim, apesar de ser meu. Ou será que eu é que sou dele?
No inicio não percebia muito bem o momento da sua chegada, sei que muitas das vezes começava naquele pensamento primário e ele saltava-lhe  para a frente sem conseguir dar conta e apoderava-se de mim tirando-me o controlo. Ora este "desgraçado" quase fez com que aqui a minha pessoa causasse um acidente de viação. Nesse momento tremi e foi nesse momento que percebi o quão perigoso ele poderia ser. Mas aprendi a controlá-lo... ...e acho que já o controlo. Com quê? Como?
Surpresa das surpresas...
Com música!
Eu canto, mesmo sem a minha boca se abrir e ele sorri e esconde-se bem lá no fundo, no meu fundo.
Claro que, primeiro tive que aprender a senti-lo, mas não foi difícil. Sempre que me sinto atropelada de ideias, de sensações, de questões e no entanto ordenadas é sinal que ele está a brotar. E eu deixo-o surgir, tenho que deixar...
Mas pensamento, não pode ser na altura que tu queres. Tu és livre e no entanto és meu. Eu preciso de ti como tu precisas de mim.
E és grande Pensamento meu...



"O Pensamento é como a alma, Eterno. A Acção é como o corpo, mortal."
[Gustave Flauver]

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