"O anfitrião convidou os dois recém-chegados a entrarem e conduziu-os à sala situada à direita do corredor... ... Salazar indicou aos visitantes que se instalassem no sofá, junto á lareira apagada; o ar estava tão gelado que tornava a sala desagradável. Encolhido no sofá, Kaloust* não resistiu a lançar um olhar inquisitivo à lareira adormecida.
- O senhor presidente do Conselho não tem frio?
- Não se pode gastar lenha, temos de ser poupadinhos - Setenciou o anfritião.
...
- Sabe, sempre tive curiosidade de o conhecer. - confessou Salazar, cruzando a perna e encarando o magnata.
- Bem vê que não é costume instalar-se em Portugal o homem mais rico do mundo, não é verdade?
Kaloust sorriu mas, no momento em que ia responder, hesitou. Os seus olhos haviam descido inadvertidamente para a perna cruzada do ditador e, como um íman que se cola ao magneto inconvenientemente, fixaram-se na bota dele. Tinha a sola rota."
[Um Milionário em Lisboa - José Rodrigues dos Santos]
* Calouste Sarkis Gulbenkian
Sem comentários:
Enviar um comentário