XCII


E a beleza da arte?

"A arte é o produto da acção do homem, quando ele tenta transcender a sua condição animal e passar de criatura a criador. Ao pintar uma cena na floresta, o homem torna-se Deus porque cria numa tela a natureza, ao contar uma história num romance o homem torna-se Deus porque cria no papel a vida das pessoas. Deus é um artista, pelo que a arte é um acto divino.
... a arte tem sido sobretudo uma incessante busca pelo sentido da vida. A experiência da beleza é o que nos faz acreditar que o mundo tem um propósito, que as coisas desempenham uma função e ocupam um lugar próprio.  Quando contemplamos a miríade de diamantes estrelares que mancham o céu nocturno, ou o pissitar melodioso do estorninho entre as folhas de um plátano... o espanto maravilhado que sentimos confirma-nos que o mundo é um lugar especial e que, enquanto elementos desse mundo, também nós somos especiais, abençoados pelo toque divino como se nós próprios fossemos divinos. O universo que abraça estas maravilhas também nos abraça a nós e nós fundimo-nos nele como se todos fôssemos um. A beleza confirma-nos subtilmente que a vida tem um sentido. Podemos não saber que sentido é esse mas intuímos pela tangibilidade da beleza que ele existe... Quando procuramos a beleza, estamos na verdade a procurar o propósito da nossa existência."


[José Rodrigues dos Santos - O Homem de Constantinopla]



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