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Lá pelos meus 4/5 anos, fui viver com a minha avó paterna. Foi uma opção minha, que apesar de ser ainda uma criança, foi aceite pelos meus pais devido ao inesperado falecimento do meu avô. Com ela fiquei até ao meu 16º aniversário. Foi portanto, com a minha avó que cresci e aprendi muitos dos valores e ensinamentos, que ainda hoje prezo orgulhosamente.

Lembro-me que a minha avó sabia muitas cantilenas e desde muito cedo tentou incuti-las a mim. Algumas deixei esquecer com o tempo, de outras lembro apenas partes, mas duas ou três houveram que ficaram gravadas nos veios da minha memória.

Reza assim uma delas:

Una, duna, tena, catena, cigarra, migalha, no bico, dos pés, conta bem, que são dez.

Esta é portanto uma cantilena que tem tantos anos como os que tem a minha avó, ainda viva. Assim eu pensava até ontem.

Ao ler o Espião de D. João II, que para os mais curiosos, (uma vez que esta coisa de espionagem aguça sempre a atenção até dos mais cépticos), se chamava D. Pêro da Covilhã - sendo que Covilhã não é sobrenome mas sim a localidade onde nasceu - descobri na página tantas, que esta cantilena já era entoada pelas bocas dos que viveram por volta do ano 1450, possível data de nascimento de D. Pêro.

É tão surpreendente como indubitável o facto de esta ladainha, cançoneta, o que lhe quiserem chamar, ter no mínimo 562 anos e ter sobrevivido a pelo menos 8 gerações...

 
 

Descobrir isto proporcionou-me um sorriso daqueles...

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